O desafio
A leitura e a escrita têm um papel crucial no percurso escolar e na vida futura das nossas crianças. Sem serem capaz de ler e escrever bem, ou enquanto não o fazem, os alunos não conseguem beneficiar de todas as oportunidades que a escola tem para lhes oferecer e, no limite, podem mesmo ver comprometido o progresso escolar.
Os resultados dos estudos internacionais em que Portugal tem participado (PIRLS e PISA) mostram que embora o índice de literacia dos alunos portugueses tenha progredido consistentemente entre 2000 e 2015, e atualmente se situe dentro da média dos demais países avaliados, houve uma quebra no nível médio de desempenho nos últimos anos. Os dados obtidos no PIRLS mostram que aos 9/10 anos aproximadamente 25% dos alunos revelam dificuldades de compreensão da leitura, com 6% a não conseguirem sequer alcançar um nível mínimo de desempenho; na amostra de alunos testados no PISA de 2022, 23% tiveram resultados abaixo do nível 2, o nível considerado pela OCDE como o desempenho mínimo necessário à participação nas sociedades modernas (corresponde ao conjunto de alunos definidos pela OCDE como low performers). Em síntese, os resultados das últimas edições destas avaliações internacionais mostram que ao longo do Ensino Básico, em média 1 em cada 4 jovens não alcançou um nível elementar em leitura (IAVE, 2023; OCDE, 2023). E mostram também que a recuperação das dificuldades evidenciadas nos primeiros anos de escolaridade não é assegurada pela escola.
Os baixos níveis de literacia têm sérias consequências pessoais, sociais e económicas. Os estudantes, crianças e jovens, com desempenhos fracos em leitura estão em maior risco de abandonar a escola precocemente (OCDE, 2016). Os adultos nestas condições têm uma menor probabilidade de conseguirem empregos bem remunerados e gratificantes, enfrentam um risco acrescido de pobreza e exclusão social, têm mais dificuldade em apoiar o percurso escolar dos filhos e valorizam menos a educação, o que explica o efeito geracional dos baixos níveis de qualificação. Do ponto de vista social, o desenvolvimento e o crescimento económico ficam comprometidos quando uma faixa significativa da população de um país tem um nível de literacia baixo.
O objetivo
O Projeto LER resulta da visão e missão da Fundação Belmiro da Azevedo, que tem a Educação no centro da sua ação, focando a sua preocupação na aprendizagem da leitura e da escrita e na importância da qualidade da formação dos professores para a melhoria e modernização do sistema educativo português. O objetivo último desta iniciativa é contribuir para uma melhoria efetiva dos níveis de literacia das crianças e jovens portugueses.
O desenvolvimento
Na plataforma LER encontra-se um conjunto de conteúdos diversos, produzidos por uma equipa de reputados investigadores nacionais que sistematizam de forma sintética as principais vertentes do conhecimento acerca da aprendizagem da leitura e da escrita, dirigindo-se em particular aos docentes da Educação Pré-escolar e do 1º Ciclo. Aqui abordam-se os domínios mais relevantes dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita e os fatores que os condicionam, permitindo aos docentes a compreensão de muitas das causas de problemas que surgem nas salas de aula, convidando-os a estruturarem um ensino fundamentado, eficaz e inclusivo.
A par da disponibilização destes conteúdos o Projeto LER possui mais dois eixos de ação: i) a avaliação da capacidade de leitura e escrita e das habilidades preditoras do sucesso na sua aprendizagem, no pré-escolar e nos dois primeiros anos de escolaridade; ii) a formação de docentes e dos alunos do ensino superior, futuros educadores e professores, que terão a missão de preparar a aprendizagem da leitura e escrita ou ensinar a ler e escrever.